quinta-feira, 25 de março de 2010

UNÇÃO COM ÓLEO NA EPISTOLA DE TIAGO


A Epistola de Tiago foi escrita aos judeus cristãos da dispersão (1.1; 2.1), com o objetivo de trazer consolo e fortalecimento em tempos de provação (1.2; 2.6-7; 5.1-6), bem como corrigir erros na pessoal dos crentes e da Igreja (1.19-21; 2.14-26; 4.1-5.11). É possível que tenha sido uma das primeiras a serem escritas no Novo Testamento (entre 40 e 61 d.C).
Nesta epístola Tiago fala pouco sobre as muitas doutrinas cristãs, sua epistola destina-se a estimular os seus leitores a terem compromisso com a teologia ensinada pelos apóstolos, a se saber: Cristologia (Tg 1.1 e 2.1) especificamente a glorificação de Cristo; Escatologia (Tg 5.7-8) exortando aos cristãos a buscarem as coisas do alto e não as terrenas, pois Cristo está voltando. O julgamento vindouro recebe grande ênfase, e aqueles que se mostrarem fiéis e obedientes, receberão o seu prêmio (Tg 5.20); A Justificação com ênfase na fé e nas obras (Tg 2.14-26), onde Tiago procura mostrar que a verdadeira fé se manifesta em ações concretas, que procedem a conversão, é um compromisso firme e inabalável com Deus e Jesus Cristo; Soteriologia e dentro dessa Perseverança dos Santos (Tg 1.12) e Doutrina da Igreja, mais especificamente, Meios de Graça ou Vida Cristã (5.20), este é o ensino teológico básico de Tiago em sua Epistola.
O propósito de Tiago é prático, ele escreve com o objetivo de encorajar os judeus cristãos dispersos pelo mundo greco-romano, aos quais se encontravam sendo oprimidos pelos judeus ricos.
A epistola de Tiago é vista por muitos, como um documento de difícil entendimento, porque ela muda de assunto de uma forma abrupta, assim muitas conclusões erradas podem ser tiradas. E uma dessas conclusões erradas a qual cerca a Epistola de Tiago, ocorre no capítulo 5.14, onde este versículo é usado na Igreja Contemporânea, como base para afirmar a eficácia da prática da unção com óleo, mais especificamente dando ênfase no poder da unção.
Com isso, um dos maiores desafios da Igreja hoje, é manter um equilíbrio doutrinário e prático frente aos abusos e ensinos errôneos que cercam a unção com óleo. Por causa do abuso de alguns, acaba-se deixando ensinos e práticas que são corretas e atestadas pela Palavra de Deus.
Assim a Igreja simplesmente se calou sobre o assunto e deixou de praticar e de orientar os cristãos sobre tal prática. Agora a prática está voltando às Igrejas, às vezes de forma correta, e outras completamente absurdas. Então, precisa-se aprender a não combater exagero com exagero, e abuso com silêncio mas com ensino, práticas corretas e Bíblicas.
Portanto o objetivo deste artigo é resgatar e restaurar o ensino e a prática correta da unção com óleo sobre os enfermos.
Para isso, é necessário, que se tenha, uma noção do que significava o óleo no contexto bíblico: O Azeite de Oliva era o ingrediente de qualquer preparado de óleo, era o óleo da Oliveira, mas normalmente se acrescentava outro elemento.
A Mirra era o óleo retirado de um arbusto espinhento natural da África e da Arábia. A árvore produzia frutos semelhantes à ameixa. Seu óleo era altamente perfumado. Quando misturado ao vinho produzia uma sensação de entorpecimento, foi oferecido a Jesus na cruz (Mc 15.23).
O Nardo planta natural da Índia Oriental, possuía um forte perfume Maria ungiu a Jesus com nardo puro (Mc 14.3).
O Cálamo Aromático, uma espécie de cana de miolo perfumado media cerca de 60 cm. Cássia, pó aromático retirado da árvore do mesmo nome. Estes produtos eram raros, tinham de ser importados e por isso eram caros. Freqüentemente eram presentes para reis e outras pessoas importantes. Jesus, por exemplo, recebeu Mirra. Como visto acima, todos esses óleos não possuíam poder algum, mas eram simplesmente óleos.
 No Antigo Testamento, o óleo de oliva tinha várias funções: era usado para combustível, coméstico, perfume e unção para fins religiosos. Tudo o que era sacrificado ao Senhor tinha que conter azeite da oliveira (Lv 2.4-5), pessoas e objetos eram ungidos com óleo como sinal de que eram separados para Deus, reis eram ungidos (2Sm. 2.4); os sacerdotes (Êx 28.41); os utensílios do tabernáculo (Êx 30.22). A unção era vista como um ato de Deus (1Sm 10.1), ela era usada como símbolo de credenciamento como representante de Deus (1Re 19.26; Ez 16.6-9). No Novo Testamento a unção com óleo tipificava a unção com o Espírito. Isso porque Jesus Cristo resumiu todos os ofícios do Antigo Testamento no Novo Testamento (2Co 1.21).
No Novo Testamento são usados dois verbos, para especificar o termo “ungir”, são eles: kriw e aleifw. Para significado simbólico cerimonial, é usado (kriô) kriw. Já para designar uso físico de ungir, praticado exclusivamente sobre pessoas enfermas, como uso medicinal é usado (aleiphô) aleifw. No grego clássico aleifw era usado para indicar o processo pelo qual se derramava ou untava, com gordura mole, ou azeite, uma pessoa ou objeto.
O verbo kriw tem uso cerimonial na unção de sacerdotes, por meio da qual, esses sacerdotes eram separados para o serviço de Deus. Essa ação indica obrigação e honra, e também proteção para aquele que é ungido. Está mais restrito às “unções sagradas e simbólicas”, é usado para se referir a Cristo como “Ungido” de Deus (Lc 4.18; At 4.27; 10.38; Hb 1.9). No Antigo Testamento, com o significado de cerimonial, ele ocorre em quatro ocasiões (Gn 31.13; Ex 40.15,28; Nm 3.3).
No Novo Testamento aleifw ocorre oito vezes, nos Evangelhos e na Epístola de Tiago. A unção com óleo como aleifw, era praticada sobre pessoas,  e podia significar várias coisas: Em Mt 6.17, mostra higiene e limpeza, se refere ao ato de passar óleo na face ou no rosto com propósitos higiênicos ou estéticos; Mc 6.13 aleifw tem caráter curativo, como a presença do poder que o curou; Lc 7.38 aleifw seu uso se referi a um sinal de honra a um hóspede, ao qual era um costume judaico; Em Lc 10.34 aleifw tem uso mais medicinal. aleifw em Tg 5.14 é uma proposta de aplicação medicinal, Tiago usa aleifw porque é a palavra neotestamentária que descreve o ato físico de ungir. Pode-se então entender que o óleo aqui é visto como um acessório à cura milagrosa, e como um estímulo à fé do enfermo.
Tiago fala de uma unção física com significado simbólico espiritual. O significado simbólico espiritual é a consagração para Deus. Assim sendo, ao orarem pela pessoa doente, os presbíteros separavam-na para receber atenção especial de Deus através da Unção.
            Portanto a unção com óleo no Novo Testamento aplicado aos enfermos tinha uso religioso e não medicinal apenas, porque através dela, Deus operava a graça da cura no crente enfermo. O fato de a unção de doentes ser mencionada apenas nestes textos Mc 6.13 e Tg 5.14, associadas ao fato de muitas curas serem realizadas sem ela, demonstram que a prática não é acompanhamento obrigatório e necessário à oração pela cura, mas apenas um elemento a mais para simbolizar o cuidado de Deus, e alimentar a fé do enfermo.
Além disso, o ato de ungir, pode ter o seu pano de fundo na prática de exorcismo, o “Novo Dicionário Internacional de Teologia” descreve essa hipótese, pois se vê que o ato de ungir é um símbolo através do qual os demônios eram expulsos, o qual mostra uma cura também, só que em termos espirituais, pois a pessoa se tornava liberta da possessão demoníaca a qual escravizava sua alma.
É importante saber que as curas físicas eram um aspecto essencial do ministério de Jesus (Mt 9.35, 10.1; Lc 10. 1,9). Mas, o importante a se ressaltar, é que todas as curas que Jesus praticou, eram sinais de sua messiânidade (Mt 11.4-6; Jo 10.25, 26, 38; At 2.22). E as curas que os apóstolos praticavam, eram para confirmar o Evangelho ao qual eles pregavam e para identificá-los como autênticos mensageiros desse Evangelho (At 14.3; Rm 15.18,19; Hb 2.3,4). Tanto a cura, como a unção veio a ser vista como um sinal visível do começo do Reino de Deus.
A unção com óleo, na época de Jesus, era feita pelos apóstolos (Mc 6.13), depois da ascensão de Cristo passou a ser feita pelos presbíteros da Igreja (Tg 5.14), os presbíteros deveriam aplicar a unção, porque eles representavam à Igreja. É bom ressaltar, que em nenhum dos dois textos citados referente à unção com óleo, não existe base suficiente para se dizer que a unção com óleo está relacionada com dons de cura como pensam alguns. Uma vez que o doente deve chamar os presbíteros em casa, indicando que deve tratar-se de doenças mais graves, ou a prática de pecados que precisavam ser confessados, fora isso, em nenhum momento se subentende que a cura foi realizada.
Portanto, entende-se que a passagem de Tiago 5.13-18 trata especificamente de oração, e, é dentro dessa passagem, que encontramos o versículo 14, onde muitos usam para falar algo a favor ou contra a unção com óleo. Mas é importante notar-se que em todos os versículos da referida passagem, é citada a oração: v.13 - ...faça oração; v.14 - ...chamem os presbíteros façam oração; v.15 - E a oração da fé salvará o enfermo...; v.16 - ...orai uns pelos outros para serem curados; v.17 - Elias... orou...; v.18 - E orou, de novo....
A ênfase de Tiago nesta passagem era o que a oração da fé podia fazer diante das adversidades da vida, isso porque os ouvintes de Tiago estavam passando por tribulações, e era necessário que estes exercessem a sua fé. Tanto é que a epistola gira em torno da questão da prática da fé, diante do caráter do discípulo de Cristo. Porque uma oração centrada na vontade de Deus, só é proferida pela boca de um discípulo que tem um caráter integro diante do mundo, e de Deus. É importante notar também, que no final do versículo 16, Tiago dá ênfase ao caráter de quem ora, usando o termo “justo”, mostrando que a oração da fé é a expressão do relacionamento de intimidade do justo com Deus.
Portanto é errôneo dizer que o versículo 14 é fonte de autoridade para a unção com óleo, como sendo o óleo um objeto residente de poder. Isso porque hoje, é dado ênfase na cura feita através da unção com óleo, e o texto de Tiago mostra o contrário, mostra que é a oração o agente principal da cura, não que Deus tenha que concordar com a oração do justo, mas que a oração faz com que o justo entenda a vontade de Deus, e se a cura for a vontade de Deus, assim será.
Diante do uso da unção com óleo, Tiago no versículo 14, faz referencias aos presbíteros, que naquela época eram os anciões da Igreja. Tiago não fala de diáconos, dirigentes de louvor, ou qualquer outra pessoa, para o ato de ungir o enfermo. Mas indica que os presbíteros tinham que ser chamados para visitar e tratar do enfermo, era uma obrigação dos presbíteros, e não de outra pessoa. Além de eles terem que passar óleo no enfermo, eles tinham que fazer com que esse confessasse o seu pecados, mas tudo isso era feito pelos presbíteros, e não por outra pessoa.
Portanto, Tiago está mostrando que, quando o cristão se encontrava enfermo, esse precisava chamar os presbíteros, para que eles orassem por ele, e depois o ungisse com óleo em nome do Senhor, e o enfermo confessasse os seus pecados. É importante ressaltar que a função de presbítero na igreja primitiva era relacionada a homens maduros na fé, aos quais eram responsáveis pelo cuidado espiritual da igreja a qual ele residia. Portanto diante da situação de enfermidade, era necessário que o cristão chama-se o presbítero para que esse fizesse uma oração. A pergunta que fica diante disso tudo é o por quê da unção com óleo? Sendo que a ênfase na passagem se encontra na oração?
A expressão “ungir com óleo”, se refere como o ato de “esfregar com óleo” o enfermo e não “ungir com óleo”, pois antigamente as pessoas usavam o azeite de oliva como prática medicinal, a qual era feita mediante o massagear ou esfregar o óleo no enfermo. Mas tanto a oração como a unção, tinham que ser em nome do Senhor, mostrando ênfase no poder de Deus. Mas se o óleo era usado como remédio antigamente (Lc 10.34), então se entende que nessa passagem a unção com óleo tinha caráter medicinal também. Diante disso surge uma outra questão referente ao uso da unção com óleo. Se o óleo tinha caráter medicinal, por quê outra pessoa não podia executar tal ato? Pois os presbíteros não eram médicos!
A preocupação com os “pecados” (Tg 5.15-16), enfatiza a idéia de um ambiente altamente espiritual e não somente de um tratamento natural por meio de remédios. Portanto somente os presbíteros poderiam ungir, porque eles eram os homens separados por Deus para dirigir a Igreja, e cuidar de seus membros, ou seja, eles eram os representantes de Deus na Igreja, para cuidar também da vida espiritual de seus membros, e a cura física do enfermo poderia trazer também a cura espiritual deste, a qual é revelada no perdão de seus pecados confessados e arrependidos. Então qual será o significado concreto da unção com óleo?
O significado da unção com óleo expressado no Novo Testamento, e especificamente em Tiago, tem haver com um caráter religioso, onde este era um símbolo físico do poder divino que atuará no enfermo, levando-o a recuperação de sua enfermidade. Mostrando que o poder da cura não residia no óleo, mas em Deus, porque através do caráter do justo, Deus inclina o seu ouvido para ouvir a oração, isso porque o justo tem intimidade com Deus, ele se preocupa com a vontade de Deus, assim ele ora segundo a vontade de Deus (Tg 1.6). O versículo 15 do capitulo 5, mostra que a unção com óleo nesta passagem é secundária, enquanto a oração é central.
Pode-se notar que a unção por si só não cura, isso porque muitas outras curas foram feitas no Novo Testamento, e não foram realizadas mediante unção, mas pelo poder de Deus. Mostrando que tal prática não é necessária para oração pela cura. Tiago deixa claro que os presbíteros que oram pelos enfermos podem usar a prática da unção com óleo, mas que isso não é uma ordem, pois eles não precisam fazer isso se não quiserem, pois o principal, é a oração.
Portanto pode-se dizer que a unção com óleo em Tiago 5.14, tem sentido de um ato físico com significado simbólico espiritual, ao qual demostra o poder de cura de Deus no enfermo.
Conclui-se que a unção com óleo aliado ao ato de fé da pessoa é um meio estabelecido por Deus para abençoar os que se encontram em enfermidades. Assim a unção é a separação da pessoa enferma, para Deus. Certamente não há poder algum no óleo, mas visto que é um símbolo do poder de Deus.
Não há problema algum a se praticar tal ato, desde que seja explícito que o óleo em si não tem poder de cura, mas apenas um ato físico com significado simbólico espiritual, no qual indica a separação da pessoa enferma, para Deus. Aos que praticam tal ato, tem que entender que a unção precisa ser acompanhada por oração sempre em nome de Jesus, porque quem cura é o Senhor, e não a unção com óleo. Achar que a unção em si leva à cura, é excesso de misticismo. Por isso é importante lembrar que a unção com óleo não é algo para ser praticado sempre sem qualquer critério, mas sim em casos graves. A unção no Novo Testamento sempre foi feita nas pessoas, não nos objetos, portanto a prática hoje não pode ser ligada a bens materiais. Na Bíblia, existe a prática de ungir coisas, mas esta unção, se encontra relacionada exclusivamente à consagração de coisas ao serviço de Deus, exemplo a unção do tabernáculo.
Outro fator importante a se ressaltar, é que a unção com óleo, não é essencial à oração pela cura do enfermo, mas a oração é essencial no processo de cura do enfermo.
Diante desses argumentos citados anteriormente, a unção com óleo é uma prática que não necessita ser exercida na Igreja contemporânea, pois a ênfase da cura não se encontra no ato de ungir, mas no poder de Deus diante da oração do justo, ao qual busca ter um caráter integro diante de Deus, ou seja, uma intimidade a qual busca a vontade de Deus. Porque a oração é um meio de graça na vida do cristão, e Tiago quer nos ver fazendo uso pleno dela, especialmente em casos de doenças.
Assim pode-se ver que nos textos onde o óleo aparece mediante a unção para cura, nota-se que ele é apenas um elemento secundário, assim como a água do Jordão foi secundária na cura da lepra de Naamã em 2Reis 5.1-19. Porque Deus é poderoso, e usa qualquer meio que lhe aprouver para manifestar a sua graça diante do enfermo.
Além disso, as Escrituras Sagradas mostram que Deus cura doenças (Sl 103.3), e que o ser humano pode orar pedindo a Deus, a cura de sua enfermidade (Is 38.2-5; Mt 15.21-28; Mc 11.24; Lc 11.9-10; Jo 4.46-53). Quando uma pessoa se encontra enferma, o proceder de um cristão nesse momento de aflição é o ato da oração. Não que o cristão não deva procurar os agentes externos que Deus colocou no mundo para tal recuperação, a se referir os médicos, remédios, e tratamentos específicos. Mas que a oração do justo pode ter caráter curativo, desde que está cura seja da vontade de Deus. Por isso ore buscando a vontade de Deus, e crendo a todo o momento em seu poder.

            

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