Segunda feira dia 31 de outubro de 2011 comemora-se os 494 anos da Reforma Protestante. Assim, gostaria de começar a falar sobre Reforma, procurando mostrar um pouco do pano de fundo político e eclesiástico da época, para isso devemos partir do princípio que a continuidade entre os desejos reformadores e os acontecimentos do século XVI. Pois Lutero não apareceu em meio a um vazio, mas foi o resultado dos “sonhos frustrados” de gerações anteriores. E o seu protesto tomou a direção que é de todos conhecida, devido em parte às condições políticas que se relacionavam estreitamente com a hegemonia espanhola. A partir de nossa perspectiva espanhola, este ponto de partida nos ajuda a corrigir falsas impressões que possamos ter recebido de uma história escrita principalmente sob uma perspectiva alemã ou anglo-saxônica. Durante a época da reforma.
Os desejos reformadores se haviam instalado em boa parte da Espanha, principalmente graças a obra de Isabel e seus colaboradores. A Reforma Católica, que muitas vezes recebe o nome de contra-reforma, é anterior a protestante, se não nos esquecermos do que estava acontecendo na Espanha nos tempos de Isabel, e nos primeiros anos de reinado de Carlos V. Não podemos esquecer que esta “era dos reformadores” que estamos falando, foi a mesma “era dos conquistadores”. Isso nos mostra que a conquista da América pelos povos ibéricos é de total importância para a história do cristianismo como foi a Reforma Protestante.
Quando Isabel e Fernando herdaram a coroa de Castela, devido a morte do meio irmão de Isabel, Henrique IV, a Igreja espanhola se encontrava em grande necessidade de reforma. Durante os anos de incertezas políticas que precederam a morte de Henrique IV, o alto clero havia-se dedicado às práticas belicosas que, era característica de muitos dos prelados do fim da Idade Média. Nisto, a Espanha não se diferenciava do resto da Europa, pois seus bispos, com freqüência, se tornavam mais guerreiros do que pastores e se envolviam nas intrigas políticas da época, não para o bem dos seus rebanhos, mas por seus próprios interesses políticos e econômicos.
O baixo clero, não estava em melhores condições de servir ao povo. Os sacerdotes eram ignorantes, incapazes de responder às mais simples perguntas religiosas por parte dos seus paroquianos, e muitos deles não sabiam nada mais que dizer a missa, sem sequer entender o que estavam dizendo. Além do mais, visto que o alto clero recolhia a maior parte das entradas na igreja, os sacerdotes se viam envoltos em uma pobreza humilhante, e freqüentemente descuidavam dos seus trabalhos pastorais.
Nos conventos e mosteiros se praticava a vida mole. Havia casas religiosas governadas segundo os desejos dos seus monges e madres da alta esfera. Em muitos casos se descuidavam da oração. Do celibato pouco se fazia caso. Haviam muitos filhos bastardos dos bispos que se encontravam em meio a nobreza, assim muitos desses filhos bastardos, reclamavam os seus direitos de paternidade. Existiam muitos padres paroquianos que viviam com suas concubinas e filhos.
Isabel e Fernando haviam subido juntamente ao trono de Castela, ainda que, segundo o estabelecido antes do casamento, Fernando não pudesse intervir nos assuntos internos de Castela contra o desejo da rainha, que era a herdeira do trono. Fernando tinha muitos contatos com a Itália, e a atitude renascentista de quem via na igreja um instrumento para seus políticos se havia apegado a ele. Isabel, por sua parte, era uma mulher devota e seguia rigorosamente as horas de oração. Para ela, os costumes licenciosos e belicosos do clero eram um escândalo. Para Fernando a preocupação era o excessivo poder dos bispos, convertidos em grandes senhores feudais. Em consequência, quando os interesses políticos de Fernando coincidiam com os propósitos reformadores de Isabel a reforma marchava adiante.
Com a finalidade de reformar o alto clero, os reis católicos obtiveram de Roma o direito de nomeação. Para Fernando se tratava de uma medida necessária, do ponto de vista político, pois a coroa não podia ser forte enquanto não contasse com o apoio e a lealdade dos prelados. Isabel via essa realidade e concordava com Fernando. Entretanto, estava convencida da necessidade de reformar a igreja em seus domínios, e o único modo de fazei-lo era tendo à sua disposição a nomeação daqueles que deveriam ocupar os altos cargos eclesiásticos.
Francisco Ximenez de Cisneros era um frade franciscano em que se combinavam a pobreza e a austeridade franciscanas com o humanismo erasmista. Ele foi o grande reformador da Igreja Espanhola. Isabel e Cisneros colaboraram na reforma dos conventos, Cisneros fez do seu direito de autoridade para tomar medidas reformadoras. A rainha Isabel estava convencida de que tanto o país como a igreja tinham necessidade de dirigentes melhor adestrados e, portanto, se dedicou a fomentar os estudos. A Espanha deve a Isabel o haver firmado as bases para o Século de Ouro. Cisneros estava de acordo com a rainha na necessidade de reformar a igreja, não somente mediante medidas administrativas, como também com o cultivo das letras sagradas. A impressa era uma grande aliada no começo da Reforma. Rapidamente nesse ínterim começou-se a desenvolver a imprensa em Barcelona, Saragoça, Sevilha, Salamanca, Zamora, Toledo, Burgos e várias outras cidades. Porém as contribuições mais importantes de Cisneros para a reforma religiosa na Espanha dentro do estilo humanista, foram a Universidade de Alcalá e a Bíblia Poliglota Complutense.
Nesse período foi instituída a Inquisição Espanhola, onde ela estava sobre a supervisão da coroa. Os crimes da Inquisição não pode ser coberto dizendo-se simplesmente que não foram tantos nem tão graves, ou argumentando que era uma instituição necessária para a unidade religiosa do país. A maioria dos eruditos da época viam na Inquisição um instrumento para a defesa da verdade. Isso porque ela tinha como propósito, era acabar com as heresias, e, para ser herege era necessário ser considerado como cristão, pois a Inquisição não tinha poder sobre os Judeus ou Muçulmanos. Diante desses fatos e de outros, a rainha estava convencida de que era necessário buscar a unidade política e religiosa da Espanha. Essa unidade era uma exigência política e religiosa, porque tal era, segundo Isabel, a vontade de Deus. Assim Isabel promoveu o golpe decisivo contra os Judeus, que foi o projeto de expulsão deles. De outra parte o arcebispo Cisneros e o resto do clero se dedicaram a forçar os Mouros a se converterem. Tanto os Mouros como os Judeus, tinham que escolher entre o batismo e o exílio. A esses mouros batizados foi dado o nome de “mouriscos”.
Buscava-se reformar a igreja mediante a regularização do clero e do incentivo aos estudos teológicos, era-se extremamente intolerante para com tudo que não se ajustasse à religião do estado. Logo, Isabel foi a fundadora da Reforma Católica, que deu o primeiro passo na Espanha e depois fora dela e essa reforma levou o selo da grande Rainha de Castela. Assim a Reforma Católica feita pelos atos de Isabel, deixou marcas na Europa, trazendo o pano de funda e também preparando o caminho para a Reforma Protestante.
Pode-se dizer que a Reforma Protestante na Europa, começou de forma preliminar com João Wycliffe, no século XVI. João Huss foi também outra figura importante que lançou os alicerces sobre o qual a reforma veio a existir. A Reforma Protestante foi o movimento religioso do século XVI, que procurava o retorno da Igreja às raízes histórica clássicas, que teve seu início histórico com Martinho Lutero, na Alemanha em 31 de Outubro de 1517, com a afixação das 95 teses de Lutero à porta da capela de Witemberg. O Movimento Reformado é também aplicado às figuras de Zwínglio, que foi o grande reformador de Zurique e Calvino, que foi o grande reformador de Genebra, esse movimento é também conhecido como a segunda Reforma. O alvo que os reformadores atacavam pode ser descrito, em termos gerais, como o catolicismo medieval. Pode-se especificar algumas áreas centrais desses ataques: Abusos Papais; Os Falsos Fundamentos da Autoridade Papal; O cativeiro Eclesiástico da Palavra de Deus; A Superioridade da Vida “Religiosa”; O Sacerdócio Pervertido e a Meditação Usurpada; O Cativeiro Hierárquico da Igreja; A Confusão entre o Divino e o Humano.
Com Martinho Lutero temos a explosão da Reforma Protestante, ele nasceu em 10/11/1483 em Eisleben, na Alemanha oriental, sua morte ocorreu em 1546. Em 1511 aconteceu sua viagem a Roma que provocou o seu desencantamento com a Igreja de Roma, em 1512 recebe o grau de Doutor em Teologia. Nas missas que celebrava no castelo de Wittenberg fez exposição de Gálatas e Hebreus. Foi preparando esses sermões que Lutero resolveu entregar sua vida totalmente a Cristo. Estudando a epístola de Paulo aos Romanos, de maneira específica em Romanos 1.17 convenceu-o que somente por meio de Cristo era possível alguém se tornar justo diante de Deus, quando desenvolveu os três temas da Doutrina da Justificação pela Fé Sola gratia - Somente a graça; Sola fide - Somente a fé; Sola Scriptura - Somente a Escritura e que se tornou temas da Reforma Protestante. Já em 31/10/1517 Lutero fixou as 95 teses contra a venda de indulgências. Nelas, condenava os abusos do sistema de venda das indulgências e desafiava a todos para um debate público sobre o assunto. Em 1520 saiu a Bula Papal dando-lhe 60 dias para ele se retratar-se com a Igreja Católica, Lutero diante disso queima a Bula Papal em praça pública. Nesse mesmo ano Lutero escreveu três panfletos importantes: Apelo à Nobreza Alemã; O Cativeiro Babilônico da Igreja; Sobre a Liberdade do Homem Cristão.
A teologia de Lutero seguia três padrões básicos. Sua teologia era Bíblica, Existencial e Dialética. Para Lutero a Escritura era a verdadeira fonte de autoridade. A Doutrina da Justificação pela Fé somente, significava para Lutero, não apenas mais uma doutrina entre as outras, mas o resumo de toda Doutrina Cristã. A doutrina de Lutero baseia-se em três pontos básicos: Imputação; Seu Caráter pela Fé Somente; Seu Impacto sobre a Expressão “a um só tempo pecador e justo”. Após a morte de Lutero em 1546, Felipe Melanchton o substituiu no Luteranismo, preservando assim os pensamentos e doutrinas de Lutero.
Outro gigante da Reforma foi João Calvino, conhecido como o pai do calvinismo. Ele nasceu em Noyon, na Picardia, que fica a nordeste de Paris, na França, em 10/07/1509. Seu pai era advogado dos religiosos e secretário do bispo local, sua mãe faleceu quando Calvino tinha apenas cinco anos. Devido a morte de seu pai em 1531, Calvino volta a Paris e reinicia os seus estudos humanísticos. Seu interesse predileto é a literatura clássica. Recebe uma formação humanística maior que a de Lutero. Publica o Comentário do tratado de Sêneca “De Clementia”. Calvino viveu em Estrasburgo três anos, lá o prefeito da cidade apoiava a Reforma, ele foi pastor em Estrasburgo, onde pastoreou refugiados franceses, nesse período de tempo ganhou o titulo de cidadão de Estrasburgo, mas teve que pagar o equivalente a cinco meses de trabalho, ele também se tornou estadista da igreja, professor, escritor e se casou-se com Idelete de Bure. João Calvino não acreditava em uma separação plena entre Igreja e Estado. Ele defendia que a relação com o Estado incluía tanto tenção quanto interação. Como o governo de Deus é sobre toda criação, a Igreja deve sim participar positivamente na sociedade. A visão dele é que está relação pudesse ser um canal para vidas irem para a Igreja. A igreja por sua parte deveria formar bons cidadãos através de famílias estavéis e fiéis cumpridoras de seu dever civil.
Calvino escreveu as Institutas que tinham como objetivo ser um guia para o estudo das Escrituras, elas se dividiam em quatro volumes: 1- O conhecimento de Deus o Criador; 2- O Conhecimento de Deus o Redentor; 3- A maneira como recebemos a Graça de Cristo e seus benefícios e efeitos; 4- Os meios externos pelos quais deus nos convida para a Sociedade de Cristo. Ele também escreveu comentários, que foram como complementos das Institutas. Escreveu comentários do Novo Testamento menos II e III João e Apocalipse. No Antigo Testamento escreveu todo o Pentateuco, Josué, Salmos, os Profetas Maiores e Menores. Seus sermões eram expostos sistematicamente de forma expositiva. Costumava pregar no Novo Testamento aos domingos e o Antigo Testamento no meio da semana. Ele procurou colocar grupos leais a ele para copiarem seus sermões somando uma quantia de 872. Seus folhetos e tratados constam de temas Apologéticos contra os Católicos e Anabatistas. Suas cartas eram escritas a outros reformadores, soberanos, igrejas perseguidas e protestantes encarcerados, pastores e colpastores.
A visão de Calvino sobre as Escrituras Sagradas era que: Todo conhecimento verdadeiro de Deus decorre do fato de que Deus, em sua misericórdia, houve por bem revelar-se a nós. A Bíblia é a Palavra de Deus inspirada revelada em línguas e confirmada ao crente pelo testemunho do Espírito Santo. O Equilíbrio entre o Espírito e a Palavra e o testemunho interno do Espírito. Algo importante também de Calvino, era a sua visão sobre a música na Igreja. Para ele a música deveria ser composta para a letra e não a letra para a música e que esta letra deveria estar dentro da Palavra de Deus, assim como era os Salmos. A música tinha que conduzir a igreja a uma verdadeira adoração, assim como também ela tinha que ser simples para que todos cantassem. Além disso ela tinha que ser alegre e com um ritmo rigoroso. Calvino também falou das marcas de uma Igreja verdadeira, que são elas: A correta Pregação da Palavra de Deus. A fiel Ministração dos Sacramentos. Assim como não muito declarado a Disciplina Eclesiástica.
Outro fator importante da visão teologia de Calvino, é o da Oração. Para ele, a oração tinha que ter reverência que é evitar toda ostentação ou arrogância; Contrição que é o proceder de um coração arrependido; Humildade que é ter em mente a glória de Deus; Confiança que é firme esperança de que a oração será respondida. Para resumir a teologia de Calvino, é importante ressaltarmos que ele via três parâmetros importantes: A objetividade da revelação do Espírito Santo no crente; O testemunho iluminador do Espírito Santo no crente; A verdadeira teologia deve manter-se dentro dos limites da revelação.
Podemos concluir esse breve artigo sobre a Reforma Protestante, dizendo que a ação doutrinária e eclesiástica da reforma do século XVI foi o aspecto exterior da renovação interior da fé e devoção. Os reformadores foram pastores e evangelistas além de teólogos e dirigentes eclesiásticos. Foram homens fiéis a Deus, serviram com fé e coragem ao Autor da vida, foram homens que deixaram bens prazer, aceitaram a morte na fogueira, foram escorraçados de seus países, chamados de hereges, loucos, baderneiros e tantos outros desagrados, mas, lutaram, trabalharam, oraram e foram fieis a Palavra de Deus, para que hoje pudéssemos adorar a Deus de verdade, sempre procurando glorifica-lo. É importante ressaltarmos que a Reforma não aconteceu da noite para o dia, mas foi tomando forma aos poucos. Lutero era um homem despreparado, como falam alguns, mas um estudioso sério das Escrituras. Todos nós temos que tomar decisões importantes que determinarão novos procedimentos a seguir, e foi isso que os Reformadores fizeram. Que possamos não esquecer que é Deus quem prepara os tempos e as pessoas.