A partir da experiência da Revolução Industrial na Europa do século XVIII, experimentamos o fenômeno da urbanização: as cidades como palco de um novo modo de vida. O problema é que não só o espaço geográfico mudou, as pessoas também. E foi a família quem recebeu o impacto dessa transformação. Antes, tínhamos uma vida pacata, sem grandes ambições, sem muita pressa. Assim, o pai cansado de um dia de trabalho na terra, voltava para seu lar e, reunindo-se com sua família, desfrutava de comunhão e descanso.
Agora, esse pai expulso da terra por causa da tecnologia que chegou ao campo, enfrenta a cidade. Nela, não apenas ele, mas também a esposa e os filhos vivem sob condições financeiramente absurdas, jornadas extensas de trabalho e habitação precária.
É claro que, três séculos depois, muita coisa mudou com a consolidação do capitalismo. Todavia uma trágica herança ficou: a desintegração da família. Esta, deixando de ser o núcleo central da sociedade, o ponto de referência onde todos os indivíduos antes convergiam, abre espaço para o individualismo.
Agora, na cidade, na multidão vivemos sozinhos! A família tornou-se apenas um “lugar” onde cada indivíduo vai para suprir apenas suas necessidades, como alimentação, repouso etc.
O homem – tão ocupado com as exigências econômicas e as necessidades fabricadas por uma mídia indutora de intenso consumo – já não tem mais tempo para conhecer os sonhos e necessidades reais da esposa e dos filhos.
A mulher – dizendo que “cuidar de casa, do esposo e dos filhos não dá futuro” (embora entendo que haja situações necessárias, entendo também que isso não é uma regra geral) – deixou de ser ponto de suporte ao lar, à família.
A criança – ora entregue na mais tenra idade às creches, ora sem a presença dos pais sempre ocupados – desde cedo experimentam essa “solidão no meio da multidão”.
E assim, temos a nova família configurada que, seguindo esse fluxo, se desintegra. Todavia, o que se torna ainda mais preocupante é que esse fenômeno se repete nas famílias do povo de Deus.
Ora, se nós somos povo de Deus, e se Ele nos exorta: “não vos amoldeis ao sistema deste mundo, mas sede transformada pela renovação das vossas mentes” (Rm. 12.2a KJ), por que simplesmente estamos fazendo o oposto? Por que o nosso padrão é exatamente o mesmo do mundo?
A família é um projeto de Deus. Há muitos textos na Palavra de Deus que se preocupam com ela. Aliás, desde o princípio Deus criou homem e mulher, e em uma relação harmoniosa.
Assim, marido e mulher “já não são mais dois, porém uma só carne” (Mt. 19.6), portanto não podem ter vidas independentes, nem viver sem um profundo conhecimento dos desejos, medos e sonhos mais íntimos do outro. E, como consequência, dos filhos também.
Sei que, infelizmente, muitas vezes não confrontamos os nossos comportamentos, nem questionamos “por que vivemos como vivemos?”. Mas, uma vez sabendo que o padrão que adotamos para a relação família/indivíduo é moldado pelo sistema deste mundo, nos resta convergirmos à Palavra de Deus, que é luz que ilumina nossos caminhos (Sl. 119.105). Portanto, nossa missão, como sal da terra e luz do mundo, é restaurarmos a família, a começar pela nossa.
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